O banheiro seco cumpre todas as funções de um sanitário convencional sem utilizar água em seu sistema, além de produzir insumos que podem ser utilizados para fertilização de plantações e agroflorestas. Com diversos modelos possíveis de construção, vê-se nessa tecnologia social mais do que um sistema alternativo de saneamento. Se encarado como solução dentro de uma realidade fechada como vivemos, pode ser a resposta para diversos problemas relacionados ao saneamento público, pois em uma única tecnologia evita-se contaminação do solo e da água.
Com princípio básico do uso do calor do sol para elevar a temperatura interna do local onde os desejos se depositarão e eliminar quaisquer patógenos nocivos à saúde e originar adubos, os modelos de saneamento ecológico são opções adaptáveis para cada situação. Contribuem para uma melhor performance ambiental da moradia e dos espaços públicos, são capazes de suprir as necessidades de acordo com o seu uso, além da facilidade na construção e manuseio.
Além dos dois modelos de banheiros secos que serão mostrados abaixo, são comuns também os construídos com baldes, bombonas e o Bason desenvolvido pelo arquiteto criador do TIBÁ, Instituto de Tecnologia Intuitiva e Bioconstrução, Johan Van Lengen.
O primeiro caso é a opção mais simples, em que o balde é posicionado abaixo do assento. Após o uso, se adiciona serragem e, quando cheio, o balde deve ser levado ao local de compostagem e permanecer por 6 meses para formação de adubo.
No segundo caso, a bombona é fixadas abaixo do assento, onde as fezes se depositam com as serragens, e ficam sob um fechamento externo metálico preto que esquenta o tambor e inicia o processo de decomposição da matéria. Quando necessário é feita a troca da bombona que ainda deverá permanecer em espera por 6 meses até ser obtido adubo.
Já o Bason é um modelo de placas pré-fabricadas que criam um recipiente que possui uma inclinação de 30º facilitando o deslizamento dos dejetos que chegam a uma segunda câmara mais baixa, onde também serão depositados lixos orgânicos e papel. Foi desenhado para ser higiênico, sem odores ruins, de fácil uso e manutenção. Num período de 6 meses a 1 ano esses compostos juntos se transformam em adubo, e através das aberturas externas da câmara poderão ser retirados e destinados diretamente às plantações.
O banheiro “mais lindo do mundo”
Localizado no Centro Inkiri Piracanga na Península de Maraú - BA e projetado pela Arquiteta Irina Biletska, nasceu de um pedido da comunidade local, que buscava inserir para os moradores e visitantes uma alternativa ecológica de saneamento, conseguindo mudar alguns paradigmas em relação ao assunto. Quando as pessoas chegam, se deparam com um espaço bonito, agradável e limpo, que reeduca os usuários com um uso diferente e consciente, além de preservar os lençóis freáticos da região que são muito próximos ao solo. Com aproximadamente 150 moradores e recebendo em torno de 2 mil visitantes por ano, o banheiro seco tem suprido a necessidade de uso, e se tornou um ponto de referência na Ecovila. O projeto foi executado pela equipe de bioconstrução da escola de Natureza e Alarife Construccion Natural, e contou com o método de compostagem inserido pelo arquiteto e permacultor Joao Lucas de Carvalho Neves do LACAN, Laboratório de Permacultura sediado no Mato Grosso, em que microorganismos são responsáveis pela decomposição, eliminação de mau cheiro e higienização do espaço.
Por estar localizado no clima tropical úmido, houve a necessidade de separação dos dejetos, e como opção prática, construiu-se em obra um assento com separador de urina. Esse deverá ser bem projetado para garantir um conforto e bom funcionamento, mas também poderá ser adquirido através de fornecedores que vendam a bacia sanitária pronta. Dessa forma, a urina segue pelo separador e as fezes que caem no tanque são compostadas através de enzimas e bactérias aceleradoras de decomposição e transformadas em chorume líquido, ou seja, um biofertilizante que escoa para uma próxima câmara subterrânea. Esse insumo final pode ser diluído e utilizado para pulverização de plantações ou seguir diretamente para o círculo de bananeira junto da água da pia e da urina.
Todas as câmaras possuem uma abertura para verificação da mesma e retirada do insumo, e do lado externo do banheiro, conectado ao primeiro tanque de dejeto, um tubo de exaustão preto que, com o calor, esquenta permitindo que o ar suba e elimine odores.
Esse modelo de banheiro é normalmente utilizado para espaços públicos e eventos pela facilidade em seu sistema e capacidade de uso, porém deverá ser analisado e considerado para cada região e clima, devendo ou não ser feita a separação de dejetos, além de ser necessário o estudo e escolha de diferentes microrganismos, com um cuidado diário.
Outros banheiros secos foram feitos com o método de termo compostagem, que tem como princípio básico o uso do calor para matar os patógenos. Nesse sistema, duas câmaras externas à construção são feitas, uma em uso e outra em espera, com inclinação de 45º para que os dejetos se depositem junto do papel higiênico e da serragem colocada após cada uso.
Virada para Norte e fechada com chapa metálica preta para reter calor, a temperatura se eleva entre 50ºC a 70ºC, os patógenos morrem e a matéria se transforma em húmus num período aproximado de 6 meses. A câmara possui também um tubo de exaustão que permite que o ar quente saia eliminando umidade e odores, além de portas para inspeção e retirada do insumo que poderá ser utilizado em plantações.